6.4.06

Só de sacanagem

No disco que há dez dias não sai da minha vitrola, Ana Carolina lê o poema Só de sacanagem, escrito por Elisa Lucinda. Tal poema aborda a lama de corrupção que atolou o país e tem um trecho assim:

Pois bem, se mexeram comigo,
com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,
então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda eu vou ficar.
Só de sacanagem.

Eis minha versão, que muda a temática e a métrica, mas segue a lógica. Eis minha versão, que sintetiza os porquês das lágrimas da noite. Lágrimas que assisti pelo espelho, sendo atriz e espectadora. Sendo eu.

Sim, chorei. Mas vi beleza nos instantes em que as gotas saltavam dos olhos. Sim, choro. Mas vejo, percebo. Choro. Mas sinto. Melhor que gargalhar no vazio.

Pois bem, se não percebem - ou desprezam - as flores que nascem no asfalto,
as que coloco no cabelo,
e as que tento colocar no caminho,
então agora eu vou sacanear:
mais sensível ainda eu vou ficar.
Só de sacanagem.

Sim, agora eu vou sacanear:
mais poesia no mundo eu vou buscar
e mais poesia vou criar.
Só de sacanagem.