29.11.05

Eu, eu mesma...

E duas Irenes!

Garota de Ipanema

Descobri que alguém que só me vê passar está compondo uma música pra mim.

28.11.05

Com água e sabão...

O coletivo de Educação da Ocupação Chico Mendes lava as paredes da Ciranda...

Cena 1) Chega um rapaz e oferece ajuda (ninguém sabe que é o professor de Artes e está ali para ministrar uma oficina para as crianças).

- Ah, vai comprar cândida...


2) As manchas de terra não querem sair. É preciso esfregar com força...

- Como é difícil fazer revolução...


3) - Alguém tem coragem de pedir para o mestre de capoeira pegar água?


4) Uma criança passa debaixo de gotas de água com detergente e cândida.

- Olha a chuva... Ácida.


5) - Vai, faz revolução... Com água e sabão! Fazer revolução! Com água e sabão!

26.11.05

Eu e eu mesma. Sem Irene.

Há dias em que só posso contar comigo. Até pra me fazer companhia.

22.11.05

Pós - 21

Vi o início do dia. Parecia que eu havia acordado àquela hora. Não confiei nas aparências e dormi um pouco.

Não reparei no final do dia. Mas vi o início da noite. Caminhei pela cidade com uma pasta vazia, cantarolando um samba.

Não estava alegre, nem triste, nem nada. Apenas estava.

Agora não estou.

Se alguém ligar, fui pra Coréia do Norte. Ou pra Estônia, lá perto da Lituânia.

Agora, é tirar o esmalte que está há quarenta e três dias nas minhas unhas e juntar os cacos.

Hoje não quero ver o final da noite.

16.11.05

Sem-teto

Tarde de sol no acampamento. Uma peça de teatro ao ar livre. Encontrei amigos, conheci pessoas, vi muitas crianças.

Andei pela ocupação. Visitei o espaço que será uma escola (ciranda); já está quase pronto. Mas falta o teto. Está sem-teto.

Pôr-do-sol com maracatu. À noite, fogueira com maracatu. Uma gota. Lembrei de tirar os desenhos colados na parede da quase-escola, afinal, falta o teto. Está sem-teto.

Cheguei em casa molhada e corri para o chuveiro quente. Eles não. Falta o teto.

10.11.05

"Vida doida, né, meu?"

Por Mariana Raphael e Carolina Paiva

Somos suas clientes há algum tempo. Mas nossa relação transcende o âmbito comercial. Sem uma periodicidade muito definida, ele aparece em frente à faculdade, com suas revistas na mão. Por vezes some. De sua vida, sabíamos algumas coisas esparsas, pescadas nas conversas do dia-a-dia. Convidamos Dario para uma entrevista; imaginávamos que teria muita história pra contar. Não sabemos se ele gostou muito da idéia, mas no dia marcado disse:

- Hoje eu vou falar tudo.

Seria impossível levar tal afirmação ao pé da letra, porém nosso entrevistado realmente falou bastante. Pode não ter dito tudo, mas certamente contou o suficiente para compormos um perfil.

Dadá carrega consigo (além das revistas e da mochila nas costas) um habitual ar de tranqüilidade. Porém, durante a entrevista ele estava um tanto irrequieto. Ficou brincando ininterruptamente, ora com o elástico de prender os cabelos longos, ora com o canudinho do refrigerante.

Não tínhamos reparado em suas tatuagens até o momento da “grande conversa”:um símbolo do “Om” no pulso esquerdo e uma frase fazendo menção a uma de suas paixões: “Just skate board”, no braço direito.

- O que significa essa expressão?

- Você não sabe? – perguntou, em tom de deboche.

Sempre chamamos Dario considerando o “ri” como sílaba tônica. Ouvindo a gravação da entrevista, percebemos que ele disse seu nome com ênfase no “Da”. Voltamos a fita algumas vezes. Dário ou Darío? Será que sempre pronunciamos errado? Será que nunca perguntamos a ele o modo correto de dizer seu nome?

Sua história é bem diferente do que comumente se ouve quanto aos motivos que levam uma pessoa a viver na rua. Em 28 anos, ele já trabalhou como office boy, vigia; foi monge do Hare Krishna, artesão... Já morou em templos, em uma barraca de acampamento, num albergue... Já dormiu em sofá de balada por não ter pra onde ir...Atualmente, nosso entrevistado divide uma kitnet alugada com um amigo e trabalha como vendedor da OCAS, uma revista que faz parte de um projeto social destinado a pessoas em situação de rua.

O mais novo dentre os três filhos de um mineiro com uma gaúcha, Dario Bertolluci nasceu em Porto Alegre, em 1976.

- Então você passou sua infância no Rio Grande do Sul?

- Ah, você quer saber desde o início?

Seu pai era da aeronáutica, trabalhava na base aérea de Canoas. Quando Dario tinha cinco anos, seu Nelson César foi transferido para a base aérea de São José dos Campos, na mesma época em que dona Margarete adoeceu de câncer. Durante o processo da doença, o pai de Dario saiu da aeronáutica. Sua mãe faleceu quando ele tinha “uns seis anos”.

- Aí começou toda a doideira. Acho que a partir daí que começou a loucura toda porque eu não parei em lugar nenhum. Eu ficava “pingando” na casa dos familiares. Morava um ano na casa da vó, no outro ano na casa da outra vó, na casa do tio, na casa da tia...

Na adolescência, morou um tempo com seu pai e aos dezenove anos, após “escapar do exército” e começar a trabalhar como vigia noturno na Escola de Aviação Congonhas (EACON), passou a dividir um apartamento alugado em Moema com um dos irmãos, que trabalhava no mesmo lugar. Até que os dois foram demitidos.

- Por que?

Dadá enrolou para responder. Na época, ele achava que poderia exercer uma função “muito melhor” dentro da escola e que seu trabalho não tinha “nada a ver” com ele. Então começou a ser displicente; faltava no trabalho, saía com sua moto para “curtir balada” durante o expediente e voltava às cinco horas da manhã para abrir a escola...

- E aí descobriram...

Sem emprego, os dois tiveram que entregar o apartamento; o irmão de Dario foi morar com a “mina dele” e nosso entrevistado ficou sem ter para onde ir. Não queria voltar para a casa do pai “porque sabia que não ia dar certo”. Mas quando foi ao Fórum da avenida Angélica resolver questões de documentação relativas a sua demissão, passou por um templo Hare Krishna e resolveu entrar “pra ver como era a parada”. E ficou.

- Eu tava na pindaíba mesmo, tava na pior, sem grana, sem nada...

Sua rotina compreendia acordar às quatro da manhã, tomar um banho “geladão”, participar de rituais de meditação e yoga, tomar um café da manhã vegetariano e vender livros nas ruas (livros de receitas vegetarianas, conhecimento espiritual, entre outros). A renda arrecadada na venda desses livros é utilizada para manter o templo, fazer novas publicações, distribuir alimentos e “plantar sementes da religião nas pessoas”.

Voltava ao templo, comia alimentos como arroz integral, “vegetal pra caramba”, e tinha aulas sobre o livro sagrado da Índia. Dario acredita que, atualmente, a espiritualidade é deixada em segundo, terceiro, quinto plano na vida das pessoas. Para ele é fundamental cultivar a vida espiritual, porém hoje lê de modo mais crítico os livros que abordam tal temática. “Qualquer tipo de opinião pessoal lá dentro pode ser visto como desvio filosófico”.

Durante três anos e meio morou em templos de diversas cidades. Dario explicou que um monge não tem relações com o mundo exterior, “só tem tempo de cuidar da alma e pensar em Krishna”. Estava quase deixando o templo, quando a filha de uma senhora que freqüentava o local o convidou para ir morar em uma comunidade alternativa, numa fazenda no município de Pindamonhangaba. A menina acabou não indo, mas ele foi. Em tal fazenda havia um templo, com centenas de casas em volta. Lá as pessoas cultivavam a vida espiritual, trabalhavam na roça e na manutenção do local.

Há algum tempo, nosso entrevistado estava em busca de um mestre para orientá-lo espiritualmente e lá na fazenda entrou em contato com os ensinamentos do indiano que trouxe o Hare Krishna para o Ocidente; em suas palavras, “o cristo da era moderna”. Empolgadas com o desenrolar da história, não perguntamos a grafia correta do nome do mestre na hora, e depois não conseguimos identificar pela gravação. Dario entusiasmou-se ao falar de seu mentor: "Meu, ele é muito poderoso, ele é muito poderoso". Após “conhecê-lo” através de seus representantes, foi morar num templo em Pinheiros, onde poderia adquirir mais aprendizado sobre ele. E depois desse importante passo...

- Começou a pintar outras vontades dentro de mim. Vontade de voltar pro mundo, conhecer alguém, curtir a vida. (...) Fiquei apaixonado de novo pelo mundo.

Dario acredita que quando se tem um desejo no coração, as pessoas, sem perceber, criam situações que culminam na decisão correta. E assim foi; ele "voltou" para o mundo. Saiu do templo com alguns incensos e foi a Curitiba, pegando carona em caminhões e ônibus de cidade em cidade (porque assim, os ônibus de viagem cobram valores próximos aos de linha). Vendia uns incensos, pedia uns "trocados". Às vezes dormia em uma barraca de acampamento. Foi procurar uma menina que também era monja do Hare Krishna, por quem havia se interessado. Chegando lá, disseram que ela havia morrido.

Foi difícil para nós captarmos os sentimentos dele diante determinados acontecimentos e relações (ligados a situações difíceis). No caso da morte da menina, só conseguimos "arrancar" que ele ficou triste, mas não acreditou. E voltou para São Paulo...

- Daí eu caí na rua. Assim caí mesmo.

Começou a fazer artesanato para vender. Pulseirinhas de macramê. Entrou em uma casa que estava para alugar na Aclimação e lá dormiu durante três semanas. Freqüentava o parque do Ibirapuera, às vezes ia ao templo tomar banho...

- Foi barra pesada pra mim porque eu estava totalmente perdido. Eu não sabia o que fazer.

Vendia seu artesanato em pontos culturais da cidade, como a Fiesp (avenida Paulista) e, principalmente, o Centro Cultural São Paulo (rua Vergueiro). Apegou-se a este último; em todos eles assistia a todo tipo de evento gratuito: filme, peça de teatro, show...

Trabalhava "como um louco" durante o dia. E passava a noite "na balada". Bebia "todas" e dormia do sofá. Dadá contou que muita gente que não tem onde morar faz isso: “trabalha de dia, ganha uma merreca, vai pra balada à noite. É balada de segunda a segunda, não pára. Todo dia”. E após alguns segundos completou:

- Isso acaba com a gente.

E disse isso porque durante as baladas bebia muito e fumava maconha. “Não tava nem aí, minha parada era chapar o coco, era esquecer o problema”.

Então, encontrou um cara que também havia sido monge do Hare Krishna, que o convidou para morar em um albergue. Dario já havia ficado num albergue em Curitiba, quando estava participando de um campeonato de skate. (Ao contar essa passagem, nosso entrevistado riu e exclamou: "Eu sou mó doidão, meu, fala a verdade..."). Não havia ficado com boa impressão em relação a albergues, mas foi.

Certo dia, viu um vendedor da revista Ocas, em frente a um dos pontos culturais que freqüentava na avenida Paulista, e observou como ele vendia seu produto com facilidade. Em outra ocasião, uma voluntária do projeto visitou o albergue em que morava. Dadá não quis participar porque viu a propaganda de uma megacorporação na revista e pensou que era “coisa de burguês". Mas estava “precisando de grana”. Um dia jogou todo o artesanato no lixo (nesse momento da entrevista, Dario contou que já jogou seu skate três vezes na lata do lixo; em uma das vezes ele encontrou de volta, nas outras perdeu) e procurou a sede da Organização Civil de Ação Social (a revista OCAS é comercializada apenas por pessoas em situação de rua; o vendedor a compra por 1 real e a vende por 3 reais).Vendeu todas as revistas "rapidinho" e no mesmo dia voltou para comprar mais. Começou a “sentir firmeza”.

Assim que começou a ganhar dinheiro, alugou um quarto. Após um tempo, um “camarada” de Dadá, que vendia poesias na rua e dividia um kitnet na Liberdade com um amigo, resolveu ir morar no Rio de Janeiro.

- Vida doida, né, meu?

Então Dario ocupou seu lugar. E se deu muito bem com o “camarada” do “camarada”. Pouco tempo depois que ele se mudou, o amigo perdeu o emprego e nosso entrevistado o levou para a revista, onde ele também está até hoje. Quando falou sobre a OCAS, Dadá demonstrou bastante entusiasmo. Em alguns momentos quase caiu da cadeira. Além da oportunidade profissional, atribui ao projeto muito aprendizado, o fato de ter conhecido muitas pessoas, quebrado preconceitos...

O projeto também lhe proporcionou algumas viagens. Ele participou de um campeonato mundial de pessoas em situação de rua na Suécia, em 2004 e na Escócia, em 2005 (pouco antes da viagem à Escócia, vimos Dario na televisão, treinando com os colegas da OCAS). Foi também ao Fórum Social Brasileiro 2003, em Belo Horizonte e ao Fórum Social Mundial 2005, em Porto Alegre, assim como nós. No FSM, quando encontrávamos vendedores e voluntários da OCAS, perguntávamos: “Cadê o Dario?”. A resposta suspensa no ar até rimava (considerando a sílaba tônica de seu nome no “ri”): "Cadê o Dario?” - "Ninguém sabe, ninguém viu”.

Outro assunto que o fez pular na cadeira foi uma grande paixão: o skate. Tal esporte está presente em sua vida desde os 10 anos: “Eu não consigo parar”.

- Eu me sinto livre quando estou andando de skate.

O valor que Dario dá à liberdade é percebido logo de cara. Ao se penetrar em sua história, então...

Ele disse que não pensa em procurar a família. Pretende formar sua própria família, “ter um filho, uma esposa...” Mas, por enquanto, só viveu relacionamentos passageiros. Nos momentos em que falou sobre seu pai, o clima ficou tenso. “Acho que ele me vê como um imprevisto” – disse em certo momento.

Nosso entrevistado pensa em fazer faculdade. Freqüentou um cursinho comunitário e prestou os vestibulares da USP, UNICAMP e UNESP para o curso de Biologia (tem grande interesse por “bichos”). Não passou, mas pretende prestar novamente. Uma possibilidade é tentar fazer Filosofia em determinada faculdade particular em que tal curso é gratuito.

Dario nos enrolou em alguns assuntos. E nos fez rir muito. Antes de se despedir, disse que talvez fosse a uma manifestação que estava acontecendo desde a noite anterior, contra o corte que o governo do estado fez na verba da cultura. Perguntou se não estávamos sabendo da repressão da polícia contra os manifestantes. Ficou surpreso com a resposta negativa (afinal, somos estudantes de Jornalismo!): “Mas vocês não ficaram sabendo?”; “Não viram na TV?”. Despediu-se. E se foi. Para onde? Não temos certeza. Quando o encontraremos novamente? Não temos certeza. Ele aparecerá...Quando bem entender.

8.11.05

Pão bolorento

Saí de casa bela viola.

1.11.05

Ao vencedor...

Em meio ao lamaçal, o clubinho não afundou. Transformou-se num livro de auto-ajuda.

Madrugada. "As mosqueteiras vão vencer a batalha" papeia com "Batalha de Santa Inês - eu vou vencer, eu vou vencer! "

Já deixo avisado, pra quando isso acabar: prefiro chocolate a batatas.