24.2.11

Regresso. Avesso.

Estava por perto e decidi entrar. Algo me puxara àquele ambiente estranho tão conhecido. Na breve caminhada, um misto de nostalgia e indiferença, como se fosse possível a coexistência pacífica entre elas. Tentei compor um clipe mental de lembranças boas, mas não ficou muito convincente. E não sei explicar por que; há incontáveis lembranças boas escondidas naqueles caminhos.

Procurei um rosto familiar. E encontrei, mas não me senti tão bem recebida, apesar de um tímido “Bom te ver”. Desisti dos rostos alheios e olhei o meu, num mesmo espelho em que costumava me olhar. Busquei diferenças marcantes entre o rosto de agora e o de tempos atrás. Em vão; aos meus olhos acostumados, pareço a mesma. Mas não sou, nem poderia ser. Espelhos não refletem o que mais muda dos quase vinte aos quase trinta. Espelhos não refletem o avesso.

15.2.11

Imprudência

Algumas palavras não devem nascer; não devem irromper. A gente sabe. Buracos são buracos, não esconderijos. E a gente sabe. Mas a gente diz, a gente se enfia. Alguns campos são minados. E a gente pisa.

10.2.11

Só de sacanagem

(Subindo um post de 2006 com pequenas alterações no primeiro parágrafo. Está dentre os posts não perecíveis deste blog.)

Num disco que por um tempo não saiu da minha vitrola, Ana Carolina lê o poema Só de sacanagem, escrito por Elisa Lucinda. Tal poema aborda a corrupção no país e tem um trecho assim:

Pois bem, se mexeram comigo,
com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,
então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda eu vou ficar.
Só de sacanagem.

Eis minha versão, que muda a temática e a métrica, mas segue a lógica. Eis minha versão, que sintetiza os porquês das lágrimas da noite. Lágrimas que assisti pelo espelho, sendo atriz e espectadora. Sendo eu.

Sim, chorei. Mas vi beleza nos instantes em que as gotas saltavam dos olhos. Sim, choro. Mas vejo, percebo. Choro. Mas sinto. Melhor que gargalhar no vazio.

Pois bem, se não percebem - ou desprezam
as flores que nascem no asfalto,
as que coloco no cabelo,
e as que tento colocar no caminho,
então agora eu vou sacanear:
mais sensível ainda eu vou ficar.
Só de sacanagem.

Sim, agora eu vou sacanear:
mais poesia no mundo eu vou buscar
e mais poesia vou criar.
Só de sacanagem.

9.2.11

Tinha um menino dito especial no meu vagão, com alguma síndrome que eu não soube identificar. O que ele fazia de diferente era interagir com as pessoas e sorrir sem parar, em meio às carrancas típicas do horário, típicas da cidade. O incômodo era nítido. Ficou claro que havia algo errado, muito errado. Não no menino.

2.2.11

Alvorada


Meu dia começou assim. Eu sabia que era poluição, mas meus olhos não. Pensaram que era poesia.